Em defesa das fanfics

Quando você gosta tanto de escrever os diálogos que evita totalmente descrever os lugares//Meus personagens: Onde caralhos nós estamos?

  Opa, boa noite pra geral! Aqui estou eu mais uma vez escrevendo pro blog, e hoje bancando o advogado. "Veio defender personagem fictício de novo?", vocês perguntam. A resposta é: não. Hoje vim defender um gênero literário pouco valorizado e muito subestimado, tendo como base a minha própria experiência como escritor.

  Acho que todos aqui já leram pelo menos um trecho de uma fanfic, ou até mesmo escreveram alguma. Existe um certo preconceito com esse tipo de escrita por ser considerado "coisa de criança", ou por ser majoritariamente de baixa qualidade. Quem nunca viu alguém se referindo a um determinado tipo de mídia como uma "fanfic escrita por uma menina de 12 anos", usando essa frase como uma forma de criticar?

  Tudo bem, eu concordo, grande parte das fanfics é ruim. Mas ninguém nasce escrevendo obras primas, então todo mundo precisa começar em algum lugar, não é? Criar personagens é difícil, então pra um escritor iniciante, é muito mais fácil usar personagens existentes. Assim, ele pode focar em aprender diálogo e narrativa, no lugar de ter que se desdobrar em 30 pra criar os personagens e o universo. Ou então às vezes o escritor simplesmente gosta daquele universo, e quer explorar um pouco com suas próprias palavras e ideias. Se a pessoa não estiver tentando fazer dinheiro com isso, então qual é o problema?

  Eu sou fanfiqueiro. Tenho vergonha de admitir isso, mas sou. Escrevo fanfics desde 2015, o que totaliza 7 anos escrevendo. Minha primeira fanfic era de FNAF, com diálogos horríveis e história praticamente inexistente. Os personagens eram majoritariamente os originais da franquia, com exceção da protagonista, que eu tinha criado. Nem preciso dizer que ela era uma péssima personagem... Mal tinha personalidade! Continuei nas fanfics, nunca arrisquei um universo próprio com narrativa porque simplesmente não me sinto pronto pra isso (e me divirto muito mais com as fanfics).

  Tenho três personagens de fics originais: Amy, Eve e Nat. Esses três eram de histórias contadas em forma de diário, com uma conexão entre si. Deu certo? Talvez, visto que a fic da Eve tem mais de 40 favoritos, e eu vejo isso como o pico da fama. Mas a questão é: fiz o teste com eles, e pode até ter dado certo como diário, mas ainda não me sinto pronto pra fazer narrativas em universos próprios com personagens originais. Preciso praticar. E é pra isso que as fanfics existem! Prática e diversão.

  Comecei outra fanfic recentemente, dessa vez uma de Danganronpa, que, pra quem não sabe, é um jogo japonês que envolve adolescentes morrendo. Dessa vez arrisquei e criei meus próprios personagens, apesar de usar o universo do jogo. Mas qual foi o motivo dessa mudança? Senti que já tinha praticado diálogo e narrativa o suficiente pra poder começar a criar meus próprios personagens. E talvez daqui a alguns anos eu crie meu próprio universo.

  A jornada da escrita é um passo de cada vez, você começa escrevendo muito mal, e depois vê uma certa melhora. Pergunta pro meu eu de 11 anos se ele sabia desenvolver personagens. Ele sabia? É claro que não! A Drikka (personagem da minha primeira fanfic de FNAF) era péssima em todos os aspectos possíveis: não tinha personalidade, não tinha falhas, não tinha tempero, não tinha porra nenhuma. E agora vou pegar de exemplo uma das minhas personagens mais recentes, a Sayuri: sem querer me gabar, mas já me gabando, ela é a personagem mais bem desenvolvida que já escrevi, e nem terminei a fanfic ainda. Ela passou de "barbie superficial e fútil" pra uma bagunça de sentimentos, uma mistura louca de ódio, tristeza, culpa e a sensação de ser amaldiçoada. Ela mudou. A Drikka mudou? Não, ela foi a mesma do capítulo 1 ao 18. 

  E se alguém lê minha fanfic de Danganronpa hoje e acha boa, essa pessoa teoricamente não poderia rir da minha fanfic de FNAF de 7 anos atrás, já que foi por causa dessa que cheguei até aqui. Era ruim? Com certeza. Mas era aprendizado, então não podemos ser cruéis e esmagar sonhos de crianças. Tá, se eu lesse aquela merda hoje, provavelmente faria umas críticas bem pesadas, mas isso é certo? Claro que não, eu que sou babaca mesmo. E se meu eu de 11 anos tivesse sido criticado pelo meu eu de 17 anos, ele nunca teria continuado com as fics, não teria praticado mais, e teria parado de vez (o que criaria um paradoxo, mas isso não vem ao caso).

  O ponto é: escritores precisam começar, precisam praticar e precisam se desenvolver antes de poder desenvolver os personagens. Escritores precisam das fanfics. É tipo o leite materno, você não consegue ter uma criança saudável sem amamentar o bebê. Fanfiqueiros são bebês que precisam do leite materno. E sem isso, esses bebês não vão se tornar crianças, que não vão se tornar adolescentes, e muito menos adultos. 

  E se você não se sente um "escritor de verdade" por escrever fanfics, não fica assim. Mesmo que você escolha passar o resto da sua vida escrevendo fanfics, isso não tira seu título de escritor. É sua escolha se no futuro vai criar um universo original ou não. 

  Enfim, esse foi o post de hoje. Foi mais sobre a minha experiência com escrita, mas mesmo assim, espero que passem a olhar pras fanfics com bons olhos a partir de agora. Por trás de toda fanfic "cringe", tem um escritor ou escritora se esforçando pra aprender a fazer histórias melhores. É isso, espero que tenham tido uma boa leitura. É nóis, e até a próxima!